Passado o prazo para retorno, eles desapareceram. Domingo de manhã, um corpo foi localizado em Morro de São Paulo, em Cairu, Baixo Sul. Nesta mesma região, sexta-feira, foi encontrada uma bolsa com documentos de José Carlos e destroços da embarcação. Os quatro pescadores pertencem à mesma família: são primos.
No dia anterior, todos estava contentes por que haviam retornado de uma farta pescaria, que lhes rendera 400 quilos de peixe. Apesar das redes cheias, eles resolveram embarcar no saveiro Boa Esperança e contaram aos familiares que voltariam em três dias.
Agonia
Foi nessa parte da história que a agonia dos parentes e amigos dos quatro tripulantes começou. Na última vez em que o quarteto veterano de pescadores deixou a praia de Jauá era 24 de novembro. O grupo tinha previsão de retorno dia 26, uma segunda-feira.
"Cacalo ligou e disse que tava tudo fluindo sem problemas e perguntou pelo resultado do jogo do Bahia contra o Náutico”, contou Gilson de Oliveira, proprietário do barco. Depois disso, a tripulação do Boa Esperança não fez mais contato.
"Nessa ligação, Cacalo falou que estava nas proximidades da Cetrel, a 27 braças da costa (antiga medida de comprimento, equivalente a 2,2 metros cada), a 35 metros de profundidade. Quem menos tem tempo de pesca é Edvaldo, com 16 anos”, diz Gilson.
Na porta de casa, a ex-mulher de Cacalo, a cozinheira Jocelina de Santana, 48, contou que a filha Ana Paula só dorme sob efeito de remédios. "Ela não pensa em outra coisa e a angústia não tem tamanho. A gente está separado, mas sempre nos demos bem”, afirmou. Além da jovem, Cacalo tem outro filho.
Especulações
A dona de casa Ozete Pinheiro, 42, irmã de Edvaldo, também relata momentos de angústia vividos pelas famílias. "As notícias desencontradas só pioram a situação. Parece coisa de filme, nunca aconteceu nada aqui assim”, destacou. Edvaldo tem cinco filhos, enquanto Egídio e Ronaldo, dois, cada.
Atônitos, eles não entendem como um grupo de pescadores experientes podem ter sumido. Há quem especule que o saveiro tenha sido atropelado por uma embarcação maior. "Eles não se perderam. São veteranos. Podem ter ficado escuro e outro barco maior acabou atropelando”, disse o metalúrgico Albertino da Silva, 30, amigo dos desaparecidos.
O sumiço dos pescadores mobilizou Jauá. Um grupo formado por colegas de rede acompanha de perto as buscas. Cartazes foram espalhados pela região com as fotos dos desaparecidos, além de boletins informativos com atualizações sobre o caso. Até a festa de reveillon foi cancelada. "Não há clima na região para isso. Nossos amigos são heróis”, definiu o pescador Divaldo Cunha, 46.
O estivador Eliomar Santos, 45, colocou um colchão no barracão dos pescadores na praia e faz sentinela para resguardar uma imagem de Iemanjá também colocada no local. Ele quem preparou o saveiro para a partida dos pescadores. "É a minha família que está perdida aí. Durmo aqui para olhar a imagem e na esperança de que eles voltem”.
A filha de santo Débora Potira chegou a arriar oferendas para Iemanjá "pedindo respostas” sobre o sumiço. "Entreguei flores, perfumes. A gente faz correntes de oração duas vezes por dia”.