É dos tempos de banco de escola que
Bruninho guarda a maior bronca que já levou na
vida. Uma nota baixa numa prova o fez ouvir um bocado do pai. Para que pensasse
a respeito, ainda ficou de castigo. Naquela época, o menino que nunca teve
dúvida de que seria jogador de vôlei quando crescesse, não poderia imaginar que
teria Bernardinho como
treinador na seleção brasileira. Mas ele garante que as broncas nas
quadras não se comparam com a lá de trás. E, em tom de brincadeira, ressalta:
"Elas são severas, né? O pessoal já conhece". São e ele entende.
Talvez porque enxergue em si mesmo muito do pai. Não tem só o modo de falar, o
gestual, mas o perfeccionismo, a dedicação em nível máximo e também o espírito
competitivo. Enquanto se preparava para o quadro Dois
minutinhos com..., do GLOBOESPORTE.COM, o levantador do Rio de
Janeiro dizia que seria mais rápido do que Bernardinho.
- Vi que ele
fez em 12 minutos, né? - sorri.
O filho não
precisou de tanto. Menos da metade do tempo. Mas assim como ele, também pensa,
gosta de explicar melhor algumas respostas. Faz uma pausa antes de encontrar a
melhor forma de responder quando não é bom ser Bruninho. A comparação, ouvir
algumas pessoas dizerem que ele só está na seleção por ser o herdeiro do
técnico, chateia os dois. Aos 26 anos, gostaria de ser menos perfeccionista e
autocrítico. Tem saudade de passar mais tempo perto da família. Algo do qual
Bernardinho também se ressente. Admite ter como maior medo perder as pessoas
que ama alguém muito próximo.
Paciente, Bruninho
admite que só sai do sério quando os companheiros ao seu lado "não estão
se esforçando da maneira que é importante para o time". Se for um
"Bernardinho evoluído", como diz o pai, prefere afirmar que consegue
entender um pouco melhor as coisas, por ter uma natureza um pouco mais
maleável. Mas trata logo de elogiar o pai, lembrando que ele tem cedido mais em
alguns pontos, tem melhorado ao longo do tempo. É com ele e também com ídolos
como Michael Jordan e Ayrton Senna que Bruninho aprendeu boas lições. O segredo
para ele, é não se iludir com o sucesso e nem ficar deprimido com o fracasso.
Desta galeria de gigantes do esporte, tirou recentemente o ciclista Lance
Armstrong, banido do esporte após admitir ter se dopado durante sua carreira. O
americano perdeu os sete títulos da Volta da França que havia conquistado. Li muitos livros dele. Não cheguei a queimar nenhum (como
sugeriu o pai), mas tentei deletar tudo o que li dele porque foi um ídolo que
acabou se corrompendo, e você não precisa disso para chegar ao topo.
De bem com a
vida, com "Ousadia e Alegria" grudada nos ouvidos, Bruninho não
gostaria de voltar a uma fase específica de sua jornada caso tivesse
oportunidade. Garante que viveu bem todas elas e que a atual é mais uma
importante. Também tem dificuldade para definir um momento inesquecível, por
considerar assim os títulos que conquistou. Tem carinho por todos. E mais ainda
pela mãe. Quando fala da ex-jogadora Vera Mossa, o sorriso sempre toma o rosto
de Bruninho. Diz que aprendeu com ela tudo de bom, que é a mulher mais bonita
que conhece.
Dono de um
título mundial e de duas pratas olímpicas, o levantador - que queria ter
talento para jogar futebol - carrega a amarga derrota na final dos Jogos
de Londres na lembrança. Chorou muito naquele dia, mas não quer esquecer a
tristeza que sentiu.
- Com o tempo,
essa tristeza tem fortalecido para novos caminhos e conquistas. Espero que essa
tristeza continue a ser lembrada para que eu não volte a sentir aquele momento.
Neste domingo, às 10h, no
Maracanãzinho, Bruninho terá a chance de colocar mais um título no seu
currículo. Agora, de Superliga. Já ergueu o troféu quatro vezes, vestindo a
camisa do Florianópolis. Sonha repetir o gesto pela primeira vez com o Rio de
Janeiro. Para isso, terá de bater o Cruzeiro, atual campeão da competição. A
Rede Globo e o SporTV transmitem ao vivo, e o
GLOBOESPORTE.COM acompanha em Tempo Real. O ritual que faz antes de todos os
jogos será repetido: entrar com o pé direito em quadra e fazer uma oração.
- O Cruzeiro é
uma grande equipe, que me faz lembrar um pouco nosso time do Florianópolis que
fez seis finais consecutivas. É uma equipe muito forte, que vem mostrando
qualidade, um adversário difícil de ser batido, com grande torcida. É um grande
rival e junto com nosso time vai propiciar uma grande final.
Daqui a 10
anos, espera ainda poder estar vivendo esse clima de decisão. E jogando. Do
jeito como Fofão, aos 43 anos, fez. Fonte: Globo Esporte
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