Há muito tempo a Seleção não era tão
brasileira como nesta quarta-feira. A onda de protestos que tomou o país chegou
ao time canarinho, que, em campo, parecia jogar por um Brasil melhor. Na
véspera do jogo contra o México, Felipão falou que a equipe era do povo. E
coube a Neymar, hoje o maior ídolo do futebol nacional, representar
não somente os mais de 50 mil que foram ao Castelão, mas toda uma nação em
campo.
Ao fim do jogo, a consagração aconteceu da
forma mais calorosa: Neymar foi ao povo, e o povo foi a Neymar. O craque, após
o abraço na mãe nas arquibancadas, caiu também nos braços do público que o
reverenciou. Essa interação já havia acontecido horas antes da vitória por 2 a
0 sobre o México, quando, em uma rede social, o camisa 10 se posicionou a favor
das manifestações pelo país e afirmou que a onda de protestos o faria entrar em
campo mais inspirado. Dito e feito. Neymar parecia possuído.
Endiabrado, fez de tudo: chamou os mexicanos
para dançar, regeu a torcida, arrancou, inventou drible, chapelou com o peito,
chapelou com o pé, deu passes, assistência, marcou um golaço de canhota e
ganhou até música inédita das arquibancadas. De quebra, ainda se isolou na
artilharia da nova era Felipão, nessa que, certamente, foi sua melhor atuação
sob o comando do treinador. Agora são cinco gols em noves jogos.
Pode até parecer estranho, mas há pouco tempo
Neymar estava longe de ser unanimidade em uma partida. Por mais que fizesse gol
ou tivesse boa atuação, a torcida se dividia entre aplausos e vaias. Aliás, no
empate por 2 a 2 com o Chile, em abril, no Mineirão, ele viveu seu pior
momento, sendo até hostilizado.
- Ah, o que é ruim a gente esquece. Deixa
para trás. Fiquei muito feliz de ter ouvido meu nome. É sinal de que estou
conseguindo ajudar a seleção brasileira. Mas não seria nada sem a equipe. O
fato de o time ter jogado bem, facilita demais – disse Neymar, autor de dois
gols até aqui na Copa das Confederações.
Nesse processo de transição das vaias para os
aplausos, o atacante do Barcelona contou com o apoio total e incondicional de
Felipão. O técnico da seleção brasileira apoiou em todos os momentos Neymar.
Disse que ele jogou bem mesmo quando criticado pela torcida, ressaltou sua
importância tática e o rotulou como "pronto para a Copa do Mundo".
Na base da paciência, Neymar evoluiu aos
poucos depois de ficar nove jogos (contando seleção brasileira e Santos) sem
fazer gols. E agora, como artilheiro da era Felipão, com cinco gols, ele
ostenta a marca de único jogador que foi titular em todas as nove partidas sob
o comando do treinador, desde fevereiro deste ano.
Craque precisa de um
minuto para conquistar a torcida
Último a entrar em campo, Neymar parecia
pressentir que seria uma tarde especial. Na hora do Hino Nacional, viu a
torcida cantar a todo pulmão, mesmo quando o sistema de som do Castelão
encerrou a execução. Melhor em campo nos dois primeiros jogos da Seleção na
Copa das Confederações, Neymar ressaltou a importância da força da voz do povo
na hora da canção.
- Motiva muito mais. Deixa todo mundo
emocionado – finalizou o craque.
E bastou apenas um minuto de bola rolando
para o camisa 10 provar que a inspiração não era da boca para fora. Pela
esquerda, fez gato e sapato de Mier e cruzou para Fred, que não alcançou. Após
o lance, que já havia levantado a torcida, Neymar se virou para a arquibancada
e, com os braços, pediu apoio. Se alguém tinha alguma dúvida de que os
cearenses estavam ao lado da Seleção, ela acabou naquele momento.
Em total sintonia com o torcedor, Neymar e
Seleção seguiram pressionado o México. E aos nove, o flerte entre o camisa 10 e
os brasileiros virou casamento. Após cruzamento de Daniel Alves, Neymar acertou
um lindo chute de canhota sem deixar a bola cair e marcou um belo gol.
Nova canção
Nas arquibancadas, os gritos de "Brasil” se
misturaram aos de "Neymar”. O craque retribuiu comemorando próximo aos
torcedores. Foi aí que a torcida colocou um tempero cearense com a adaptação da
música que torcedores do Fortaleza costumavam cantar para o atacante Clodoaldo,
que fez história do futebol local no início da década passada.
- Uh, terror, o Neymar é matador!
A partir daí, foi exatamente como Felipão
cobrou na véspera da estreia na Copa das Confederações contra o Japão:
"Protejam o Neymar.” Qualquer falta sofrida, passe, chute a gol ou até mesmo
uma simples cobrança de escanteio era motivo para o Castelão inteiro se jogar
aos pés do atacante. Bastou o árbitro inglês Haward Weeb repreender o atacante
por uma falta cometida para ouvir uma sonora vaia e até palavrões dos
brasileiros.
A cereja do bolo veio nos acréscimos. Pela
esquerda, Neymar entortou dois adversários e cruzou na medida para Jô selar a
vitória por 2 a 0 sobre os mexicanos. À beira do campo, um Felipão alucinado. E
nas arquibancadas, uma torcida aos pés de Neymar. Fonte: Globo Esporte
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