O foco, a raça, a concentração... Alexandra Nascimento, melhor jogadora do mundo, está na Sérvia, onde o Brasil faz
neste domingo, às 14h15 (de Brasília), a final do Mundial diante das donas da
casa. Parte do coração, porém, está no Espírito Santo. Distante de casa, Alê
acompanha pela internet a angústia vivida por amigos e parentes na cidade de
Vila Velha. O estado que a acolheu ainda criança, terra onde vivem seu irmão e
sua mãe, está debaixo de água. Após seis dias de chuva ininterrupta, o Espírito
Santo agoniza. Até agora foram mais de 400mm de chuva, mais que o dobro do
esperado para o mês de dezembro. Nos últimos dois dias, o litoral capixaba foi
o território que mais sofreu com as chuvas em todo o mundo. O suficiente para
fazer mais de 20 mil desabrigados e tirar a vida de duas pessoas.
De longe, sem ter o que fazer, Alê mantém contato com a
família e amigos. Todos têm dificuldades para sair de casa, mas estão em
segurança. Vivendo em Cobi de Cima, bairro humilde de Vila Velha, seus parentes
não correm risco. Mas amigos de bairros vizinhos e conterrâneos perderam casas
e utensílios domésticos. E mesmo assim, vivendo talvez o maior drama de suas
vidas, os capixabas não esqueceram da melhor do mundo. Alê recebe a todo
instante recados de motivação e agradecimento pela campanha histórica na
Sérvia. E garante: a luta do povo pela sobrevivência dá mais energia para a
ponta, que promete canalizar todas as boas vibrações no domingo, contra o time
da casa, na final do Mundial. - Tenho acompanhado tudo pela
internet. Estou longe, mas mantenho contato todos os dias com a minha família.
Todos estão com dificuldade de sair de casa, mas bem, seguros. É até difícil
dizer isso, mas é a única hora em que você diz que quem mora no morro e não
está em uma zona de deslizamento, está mais seguro do que quem mora nas
baixadas, que estão completamente tomadas pela água. As imagens são fortes,
fico triste com isso, mas a única coisa que posso fazer é jogar e tentar dar um
pouco de alegria para o Espírito Santo. A luta do povo, das pessoas que estão
perdendo tudo e não desistem me dá ainda mais motivação - garante Alexandra. Na
final do Mundial pela primeira vez na vida, Alê sabe que vive um momento
especial. Compartilhado com amigos da escola onde começou a jogar handebol, do
bairro onde cresceu e dos fãs de seu estado, que não esquecem de enviar
mensagens positivas mesmo em meio ao caos total. - A ficha ainda não caiu. Não
consegui dormir. Eu quero agradecer a todos no Espírito Santo, que pediram
atenção, desejaram boa sorte. Cobi de Cima, São Torquato, Vila Velha, é muita
energia positiva para mim. Muitos meninos, com 16 anos, estão acordando cedo
para ajudar os vizinhos, que estão perdendo tudo, e mesmo assim não esqueceram
da gente. Essa vitória e essa vaga na final do Mundial são um retorno nosso
para eles, que estão batalhando. Nas orações de Alê não estão apenas
pedidos para o jogo de domingo contra a Sérvia, mas também para que seu estado
tenha um pouco de felicidade nesse fim de ano, com a chuva dando uma trégua. -
Eu peço a Deus que pare de chover. Penso nessas pessoas em todos os momentos,
no que elas estão vivendo... Diante de tantas situações felizes que estamos
vivendo aqui na Sérvia, é a única coisa que posso pedir. Brasil e
Sérvia duelam domingo, às 14h15 (de Brasília), na final do Mundial de handebol.
O GloboEsporte.com acompanha em Tempo Real.
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